A INTOLERÂNCIA
Letícia Thompson
As flores toleram as abelhas, mesmo se estas lhe tiram o néctar, mesmo se, por vezes, por acidente, uma pétala se machuca.
A natureza tolera os ventos quando arrastam folhas e quebram os galhos, tolera as torrentes e correntes que não perguntam o que carregam na sua passagem.
A própria Lua tolera as mudanças e acolhe serenamente cada fase com dignidade.
Só nós, humanos e racionais, somos assim intolerantes com a vida, com o próximo, com o que acontece, com o que deixa de nos acontecer, com as diferenças e os diferentes que mal suportamos.
Damos de nós e queremos ficar inteiros; recebemos e queremos continuar os mesmos, abastados do nosso eu, sem máculas dos pecados que nos deixariam iguais a todo mundo.
Queremos amar o que nos é próximo, pois que nos disseram "ama teu próximo" sendo que esse outro deve ser uma correspondência daquilo que somos. O que é diferente nos decepciona e nos faz sofrer.
Por isso cobramos tanto dos outros e permitimos que essa negra nuvem encha nossa alma de tristeza ao depararmos com ações e reações diferentes das que esperamos.
Mas não é tolerar que o outro seja outro e aceitar com resignação e alegria até que, mesmo nos possíveis deslizes, encha nossa vida de novos ares e novas flores?
A tolerância é uma incontestável prova de amor e de humildade; é o eu que se indigna para se reerguer mais rico, mais pleno, mais aberto, mais solto e mais livre.
Mais livre! E por isso mais feliz!
Ser flexível não é se curvar.
É simplesmente abrir-se como abrem-se nossas janelas para que o sol entre e ilumine nosso recinto. É um ceder que nos enobrece, pois nos permite degustar da vida nos seus mínimos detalhes.
E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia.
E o SENHOR te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam.
Isaías 58:10-11
Isaías 58:10-11
Beijos
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